Reflexões sobre o ensino em engenharia
- Ivanildo Junior
- 16 de out. de 2016
- 3 min de leitura
Já faz algum tempo que ando incomodado com a forma que conduzo minhas aulas. Após oito anos atuando como professor na Universidade Federal do Ceará vivenciei momentos distintos de altos e baixos, situações de total desestimulo e mesmice. Em um dia de reflexão me veio o seguinte questionamento: qual a contribuição do professor de engenharia na formação de seus estudantes? A pergunta não é tão simples de ser respondida. Primeiro que, assim como eu, a maioria dos nossos colegas professores dos cursos de engenharia se tornaram professores. Nenhum de nós (ou quase a totalidade) teve uma formação pedagógica durante o doutoramento. Segundo, nós vivemos uma rotina diária exaustiva em que dividimos o tempo entre as atividades de pesquisa, ensino, extensão e também de administração. Muitas vezes o nosso tempo não permite avançar além do trivial e a maioria de nós utiliza o "método tradicional de ensino" onde o professor "cospe" o assunto em sala e os alunos vão para casa resolver problemas. Sendo assim, estamos de fato formando engenheiros e contribuindo para o desenvolvimento de suas habilidades? Pior. Cada vez mais nos deparamos com alunos desmotivados. Então surge uma nova pergunta: de quem é a culpa?
Nunca uma frase se encaixou tão perfeitamente ao momento atual: "O Brasil ainda tem uma escola do século XIX, professores do século XX e alunos do século XXI” (Mozart Neves Ramos). De fato, os professores do mais famoso Físico de todos os tempos, o alemão Albert Einstein, davam aula da mesma forma que nós damos hoje em dia. Com o avanço tecnológico e o acesso a informação há muito a ser explorado. Mas por qual motivo isto não é explorado? Continuamos com a mesma metodologia de séculos passados...
Atualmente tem surgido novas metodologias didáticas que visam promover uma melhor qualidade no aprendizado e que tem utilizado de ferramentas diversas. O intuito destas metodologias, chamadas de metodologias ativas, é de fazer com que o aluno desenvolva suas atividades acadêmicas com maior estimulo e utilizando ferramentas tecnológicas de pesquisas bibliográficas e compreensão do assunto. Duas destas metodologias que eu me deparei recentemente são as chamadas ensino híbrido e sala de aula inversa. Na primeira, em que o aluno tem um tempo dedicado a utilização ferramentas on-line e outro momento para realização de trabalhos em grupo e com auxílio do professor. No segundo, há uma inversão da metodologia tradicional. O aluno tem acesso ao conteúdo previamente, por meio de textos, vídeos ou jogos, realizando seu estudo em um momento fora de sala de aula. Em sala de aula, o professor tira dúvidas, discute e auxilia/orienta os alunos na resolução de trabalhos e projetos.
Agora vem um outro ponto importante. Para que tais metodologias sejam implantadas deve haver uma quebra de paradigmas. Primeiro, o professor deve aceitar não ser o "mandatório" em sala de aula abrindo espaço para a discussão e, desta forma, deixando o aluno com o pensamento livre e criativo. Segundo, o aluno deve ter a consciência de que a compreensão do assunto é importante e a dedicação extraclasse fará a diferença no aprendizado. Mas, além de tudo isto, as instituições de ensino superior devem ter um mínimo de infraestrutura adequada. Este é o ponto chave. Muitos de nós desistimos de mudar por achar que não vamos conseguir com que estas mudanças ocorram em nível institucional, voltando ao mesmo descontentamento de antes por parte dos alunos e dos professores.
Voltando a pergunta inicial. O nosso papel é de apenas jogar conteúdo e cobrar o mesmo em provas extensas com cálculos exaustivos ou incentivar a interpretação, a criatividade e elaboração de projetos bem elaborados? Claro que a fundamentação teórica e os cálculos de projetos não podem ser ignorados, mas por qual motivo não podemos tentar mudar? O nosso papel, no meu entendimento, é exatamente este: formar profissionais que pensam e executam tarefas com rigor tecnológico e ética profissional. Seja qual for a mudança que seja feita, ela deve ocorrer e de forma prazerosa para ambas as partes.
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